sexta-feira, 20 de julho de 2012

Comendo o que se escreve

Aqui vai outro texto meu publicado no jornal A Folha, ontem (19)


Comendo o que se escreve

Isael Lubk Mangerona*

         Antes de qualquer coisa é preciso deixar claro que o texto a seguir não é mais uma dieta milagrosa nem coisa parecida. Aliás, se pensarmos bem, trata-se de uma dieta sim, mas antes de ser milagrosa, ela é um tanto..., intragável. É que, no auge de discussões acaloradas sobre os méritos literários de algumas obras, a solução acabou sendo uma refeição um tanto indigesta.
         Dentre os vários segmentos do jornalismo, figura o “jornalista cultural”, aquele que se dedica a cobrir todas as informações na área da cultura. Um de seus expoentes foi o jornalista Daniel Piza, morto recentemente. E é ele mesmo quem escreveu certa vez que o jornalista cultural “é rotulado nas próprias redações como um privilegiado que trabalha menos (afinal, ‘dar opinião é fácil’), não tem obrigação de cavar ‘furos’ e ainda vive ganhando os melhores ‘jabás’ – livros, CDs, DVDs etc.”
Quase sempre, quando se pensa em alguém que pratica o jornalismo cultural, imagina-se uma pessoa sentada, lendo muito e tendo pouco contato com o mundo real, a não ser quando vai acompanhar uma peça de teatro, ou um filme novo. Ao contrário do jornalista que lida com os fatos do cotidiano, que está sempre envolvido em ações perigosas, acidentes, denúncias, etc.
Mas a literatura e as artes em geral, assim como a investigação histórica, também possuem suas polêmicas. No Brasil ficou célebre o embate entre José de Alencar, que em 1856 criticava a concessão de verbas imperiais para a edição do poema A Confederação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães, e o próprio Imperador D. Pedro II, que a princípio escrevia nos jornais em defesa da concessão das verbas usando um pseudônimo, mas que depois assinaria os artigos com o próprio nome.
Outra polêmica famosa foi em Florianópolis quando, após criticar um livro de Eduardo Nunes Pires, o jornalista e crítico literário Virgílio Várzea foi obrigado pelo autor a engolir as páginas de jornal onde ha­viam sido publicadas as críticas que tanto ódio despertou. Bem, ao que parece nem sempre a vida do “jornalista cultural” é tão simples assim.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

No jornal A Folha

O texto a seguir foi publicado hoje no jornal A Folha, aqui de São Carlos:

A Arte de sujar os sapatos

Isael Lubk Mangerona*

         As informações estão ao alcance de todos. O advento da internet permitiu que o mundo todo estivesse ao nosso alcance sem muito esforço. Para sabermos das notícias mais quentes do momento, basta acessar alguns sites de notícias, atualizados dia e noite. Em alguns minutos a notícia já é velha.

         Nesse contexto, natural que um velho “caçador de novidades”, o jornalista, passasse a usar em seu favor esta tecnologia. E isso aconteceu. O problema que aconteceu tanto, que, como observou Humberto Werneck, no posfácio de Fama & Anonimato, livro de Gay Talese, o jornalista passou a resolver tudo, ou quase tudo, de dentro das redações, e esta seria, inclusive, uma explicação para “o conteúdo monocórdio que nivelou, por baixo, boa parte dos jornais e revistas”.

         Esse conteúdo monocórdio acaba sendo uma consequência óbvia da busca das notícias nas mesmas fontes, já que, por pequena ou nenhuma quantia em dinheiro, todas as notícias “quentes” do mundo estão diante da tela do computador.

         É aí que faz toda a diferença o veículo de informação que mantém nos seus quadros um ser quase em extinção; o jornalista que suja os sapatos. É o velho profissional que, ao sair às ruas, busca mais do que notícias, busca pessoas. Seus assuntos quase sempre não exigem publicação imediata, pois falam do povo, e o povo está sempre aí.

         Aliás, não só no jornalismo, mas em quase todas as profissões existem aqueles que tomam como causa dar nomes e contar as histórias dessa multidão informe e anônima chamada “povo”. Como escreveu na dedicatória do livro Café e Indústria, São Carlos 1850-1950 o professor Oswaldo Truzzi “dedico este livro àqueles – escravos, imigrantes e nacionais – que, de protagonistas, foram transformados em meros figurantes de sua própria história".

         Assim é que os “mestres na arte de sujar os sapatos” abrilhantam a imprensa com “tesouros” que quase sempre estão bem próximos, histórias que passam pelas ruas todos os dias, a espera de um par de sapatos sujos que vá ao encontro delas e as façam falar.

sábado, 16 de junho de 2012

Temos os bondes

Os bondes deixaram de circular em São Carlos há exatamente cinquenta anos, em um distante 1962. Sendo assim, é natural que poucos dos mais novos saibam que há cem anos, em um ainda mais distante 15 de junho de 1912, era assinado o contrato que daria início a implementação desta importante melhoria que colocaria a cidade entre as “vanguardas” da nação.
            Entre as duas datas, São Carlos conheceu uma história de charme e beleza, vista inicialmente como uma idéia “extravagante e impossível” pelos opositores da implementação dos bondes, mas que aos poucos conquistou o apoio da grande maioria da população local.
A implementação inseria-se em um contexto de grandes melhorias para a cidade conquistadas por meio da influência dos grandes fazendeiros locais. Essas conquistas incluíam as linhas telefônicas (1889), a instalação de uma Escola Normal (1908) e, ainda em 1908, São Carlos tornava-se sede do Bispado.
Essas conquistas inspirariam G. Meire a escrever no extinto “Correio de São Carlos”, em 1918, que “São Carlos é fora de dúvida a capital do interior deste grande Estado de São Paulo”. Nas crônicas da época, é notório o clima de entusiasmo que dominava a população.
E foi nesse ritmo de grande progresso que estabeleceu-se entre a Prefeitura Municipal e o capitão Argêo Vinhas, representando a Companhia Paulista de Eletricidade, esse contrato que dava ao capitão “privilégio exclusivo por cinqüenta anos, para a construção, uso e gozo das linhas de transways elétricos, para conduzir passageiros, cargas e bagagens nas ruas e praças públicas da cidade e seus subúrbios”.
O contrato assinado para a implementação dos bondes previa inicialmente a instalação de seis linhas, e a possibilidade deste número se ampliar conforme a necessidade, mas o que acabou acontecendo foi a limitação em três linhas. Após as obras necessárias, a inauguração do sistema de transporte deu-se no dia 27 de dezembro de 1914, contando com maciça participação das autoridades locais.
A data foi de grande solenidade e orgulho para os habitantes da cidade, e, diga-se de passagem, o orgulho não era sem motivo, afinal, faziam apenas 14 anos que o primeiro serviço de transporte coletivo elétrico da América do Sul fora inaugurado, na cidade de São Paulo.
         Essa imagem e muitas outras estão em um excelente site: www.lugardotrem.com.br

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Postais do tempo

   O título desta postagem é o mesmo do livro de crônicas do Eduardo Kebbe. É um relato feito pelos olhos de um cronista da mais alta qualidade sobre as transformações passadas depois da década de 1950 na cidade. É uma leitura realmente muito boa, e para que gosta de crônicas, trata-se de uma obra de arte.
   Separei este pequeno trecho, publicado inicialmente no jornal "A Cidade", em 11 de julho de 1961, sob o título "Os bondinhos de São Carlos":

"Os bondinhos de São Carlos, se pudessem falar, contariam muitas coisas interessantes a todos nós. Eles são as testemunhas mudas dos fatos trágicos e pitorescos e são, também, as testemunhas leais do progresso da cidade. Sim, eles viram muitos casarões e casinhas serem derrubados para, em seu lugar, serem construidas vivendas magníficas; viram, enfim, a metamorfose urbana, em toda a sua grandeza.
Lerdos como a tartaruga, vermelhos como sempre o foram, aí estão a atravessar a cidade, de lado a lado, de rua a rua, produzindo um ruído cadenciado de tropa bem-cadenciada"

Pois é, hoje, deste bondes bem cadenciados resta a memória.



quarta-feira, 23 de maio de 2012

Desfile de 1961

Pessoal, o vídeo que indico mostra as festividades em São Carlos em 1961. Várias figuras famosas aparecem nele (Ernesto Pereira Lopes, Ary Pinto das Neves e muitas outras). Como não tenho autorização para postá-lo, deixarei apenas o link. São pouco mais de 4 minutos de vídeo. Assistam e recomendem.

http://www.facebook.com/video/video.php?v=1640887581935&oid=190161547661148&comments

sábado, 12 de maio de 2012

Ainda a fundação de São Carlos

   Pretendo ir disponibilizando aos leitores deste blog alguns dos documentos fundamentais sobre a História de São Carlos, que, creio eu, serão ferramentas úteis para quem quer conhecer melhor nosso passado. Claro que, em sua maioria, são documentos oficiais, que refletem apenas um dos muitos prismas possíveis em qualquer análise histórica, mas mesmo assim esses documentos ainda são incontornáveis.
   No auge da polêmica sobre a fundação da cidade, em meados da década de 1950, foi requerido pela Câmara Municipal um parecer ao Instituto Histórico Geográfico Brasileiro sobre a quem caberia o mérito da fundação. Este parecer foi concedido, e será postado na íntegra em breve, em uma página a parte no blog.
   Hoje, posto apenas a primeira página do parecer (falta de tempo para organizar o resto):

sábado, 5 de maio de 2012

Originais

   Venho mantendo uma pesquisa a cerca da vida do falecido prof. Ary Pinto das Neves, autor de vários livros sobre a história de São Carlos. Nessa pesquisa acabei conhecendo também um pouco de outro prof., o Sr. Julio Bruno, que ilustrou praticamente todos os livros do prof. Ary.

   Foi particularmente interessante quando pude ver alguns dos rascunhos originais das ilustrações e comparar com a versão final, impressa nos livros. Estes rascunho estão em posse de um acervo particular de uma pessoa que preserva muitas coisas de grande valor histórico, e gentilmente tem permitido que eu examine vários desses documentos.

 

   Reproduzo aqui um rascunho do extinto coreto da Praça Paulino Carlos e a sua versão final na capa do livro O Jardim Público de São Carlos.


 

   Tanto o prof. Ary Pinto das Neves quanto o prof. Júlio Bruno foram pessoas que deveriam ser melhor lembradas em nossa cidade pela imensa contribuição intelectual que nos legaram.



sábado, 28 de abril de 2012

A Casa do Pinhal

   Nesta postagem quero indicar o livro "A Casa do Pinhal", de Margarida Cintra Gordinho. A primeira edição é de 1985, e é dedicado a registrar a memória da família Arruda Botelho e de sua "célula mater", a Casa do Pinhal.
sede da fazenda Pinhal

   Usando palavras da autora, "a casa está implantada a meia encosta, com embasamento de pedra e taipa de pilão, possuindo ainda paredes externas e internas de pau-a-pique(...) é um exemplar arquitetônico muito importante, tendo em vista a sua representatividade dentro da história de dois ciclos econômicos paulistas: o açúcar e o café."
vista aérea da fazenda Pinhal

   É um livro muito bem feito, com vários registros dos descendentes do Conde do Pinhal. A Biblioteca Pública possui alguns poucos exemplares.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Estante Virtual

   Acabo de ler o livro de Marco Antonio Leite Brandão, Zuza, o cigano do futebol..., de Marco Antonio Leite Brandão. Conta um pouco da história deste jogador de futebol, Luis Stevam de Siqueira Netto (1911-1977), principalmente sob o ponto de vista da imprensa são-carlense.
   O autor reuniu um farto material. São muitas reportagens sobre esse personagem que tinha status de grande jogador, e atuou por grandes clubes paulistas, como Palmeiras e Corinthians. Aliás, neste último clube, segundo o autor, é o jogador com o maior número de gols em uma mesma partida (6).
   Permitam-me apenas um porém. A edição do livro não está a altura de seu conteúdo. Mas vale como outro grande trabalho de Marco Bala. Existem alguns exemplares disponíveis na Biblioteca Municipal. Segue uma poesia publicada por Ambrósio dos Santos em "A Cidade, 19/08/1946".

O DEMONIO LOURO - ZUZA

Jamais em nossos campos houve um craque
(E São Carlos já deu grandes campeões)
Que, de uma equipe comandando o ataque,
Produzisse tamanhas sensações!

Não há defesa, por mais destaque,
Por mais que lhe fulgurem brasões,
Que do Demônio Louro a astúcia empaque,
Cortando-lhe os terríveis pelotões

Podeis acreditar no que vos falo
Pobre é minha arte para retratá-lo
Como merece, com afeto e zelo;

Mas, eu confesso: quedo-me perplexo
Perante o gênio, por demais complexo,
Do formidável craque sem cabelo!

sábado, 21 de abril de 2012

21 de Abril entre nós


Martírio de Tiradentes
Óleo sobre a tela de Francisco de Figueiredo (wikipédia)
(publiquei o mesmo texto nos meus dois blogs, afinal, é feriado...)

Antes da postagem propriamente dita, uma rápida explicação: no texto a seguir, refiro-me à Tiradentes como sendo um "herói republicano", obviamente sabendo que o movimento do qual participou, a "Incofidência Mineira", havia acontecido muito antes, e o enforcamento de Tiradentes ocorrera em 21 de Abril de 1792. Acontece que durante todo o período Imperial, a lembrança de Tiradentes sempre foi algo incômodo, e ele só passa a ser visto como "herói" com a proclamação da república.
Corroboram com esta afirmativa historiadores como Boris Fausto, que escreveu que "A proclamação da República favoreceu a projeção do movimento e a transformação da figura de Tiradentes em mártir republicano". O desconhecimento deste fato aparentemente impediu a publicação deste texto em um jornal da cidade. Uma pena...
****
21 de Abril entre nós

Antes mesmo do advento da República com a consequente escolha de seus heróis, notadamente Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes), e a posterior instituição do dia 21 de Abril como um feriado em homenagem a este mártir republicano, a data já era, para os moradores de São Carlos, um dia a ser lembrado.
Isso porque, lá no distante 21 de Abril de 1857, na Câmara Municipal de Araraquara, cujo presidente era o então tenente-coronel Antonio Carlos de Arruda Botelho, tomava-se conhecimento da autorização da Igreja para que nessas terras se construísse uma capela (que, diga-se de passagem, já ia em adiantada fase de construção) e se benzesse um cemitério, consideradas etapas primordiais para a existência legal de um novo centro urbano.
A autorização episcopal era dada em resposta ao pedido enviado pelo casal Jesuino José Soares de Arruda e Maria Gertrudes de Arruda, que alegaram na petição, como justificativa para a construção da capela o fato de, pela distância dos outros centros urbanos “ser-lhes sumamente difícil a recepção do Santíssimo Sacramento da Egreja”.
Assim, incumbiu-se Rodrigues Palhares de arregimentar pessoas que limpassem e cercassem os lugares designados para esses fins. Como a Capela já ia sendo construída desde o ano anterior no mesmo lugar onde hoje se encontra a Igreja Matriz, restava preparar o lugar para o cemitério, que se fez onde hoje é o largo de São Benedito.
A benção para a nascente Capela com a consequente realização da primeira missa deu-se em 27 de dezembro de 1857, sendo celebrada pelo vigário de Araraquara, padre Cypriano de Camargo. Apesar de seus primeiros passos, o povoado ainda mostrava sua total dependência em relação aos vizinhos.
No entanto, a nascente povoação caminharia a passos largos, a despeito de todas as dificuldades iniciais. Em 6 de julho de 1857, é criado por Antonio Roberto de Almeida, vice presidente da província de São Paulo em exercício, o Distrito de Paz (primeiro degrau de várias etapas que culminavam com a criação de uma cidade) e a sub delegacia de polícia. Assim, os pequenos problemas locais já não precisavam mais ser resolvidos em Araraquara.
Em uma rápida escalada, poucos anos depois, em 18 de Março de 1865, São Carlos do Pinhal (como era então o nome, que só depois reduziu-se e apequenou-se para São Carlos conquistava sua autonomia política em relação à Araraquara, atingindo a condição de Vila (condição equivalente a de Município), e tendo formada a primeira Câmara de vereadores local. Por fim, atingiríamos a condição de Cidade em 21 de Abril de 1880.
Assim é que, para nós, o dia 21 de Abril era cheio de significados e lembranças, até ter somada a estas lembranças a homenagem feita ao herói republicano.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Imóveis Históricos em São Carlos

   Deixo um link para uma página da Fundação Pró-Memória de São Carlos que vale muito a pena conferir, sobre prédios históricos da cidade.

http://www.promemoria.saocarlos.sp.gov.br/?conteudo&id=69

  Até a próxima.

sábado, 14 de abril de 2012

Foot-ball


Segundo o prof. Ary Pinto das Neves, o artigo que reproduzo a seguir narra o primeiro jogo oficial deste esporte na cidade, está no livro "São Carlos na esteira do tempo, 2007, p.57".



" Conforme tinhamos noticiado, realizou-se domingo o match de foot-ball entre os teams verde e vermelho.
Ás 4 e meia horas da tarde partiu da casa do capitão B. Marques em direcção ao ground do Sport Club São-carlense um imponente prestito formado dos foot-ballers do club e grande numero de pessoas, tendo á frente a excelente banda brasileira.
Ás 5 horas com a assistencia de cerca de 1000 pessoas, depois das formalidades exigidas pelas regras do jogo, o juiz deu signal para o inicio da festa esportiva, que foi muito apreciada e applaudida pelos circunstantes. Serviam de juizes os capitães Thiago Masagão e B. Marques e sr. Rodolpho Brandão.
O team verde defendeu com energia e entusiasmo o seu goall, que era atacado com vehemencia pelo vermelho.
Ás 6 horas o juiz deu signal para terminar o jogo, tendo empatado os dois teams". ( O Correio de São Carlos - 6 de julho de 1904).

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Anúncios inocentes na imprensa...

   Reproduzo aqui, a título de curiosidade, dois anúncios que figuraram no extinto jornal O Popular, aqui de São Carlos.
   O primeiro:
"Convite- O cidadão (pintor) que deve ao abaixo-assinado a importancia de 79.950 tem oito dias de prazo, a contar desta data, para vir pagar essa quantia, se não quizer ver seu nome, por extenso na imprensa. São Carlos, 12 de outubro de 1891. Avelino Franco de Nascimento."

   O segundo:
"J.D.A. Desde ha muito tempo que este senhor anda cucando dum lado e levando para o outro; mas por este meio fica intimado a não continuar mais a levar notícias, sob pena de descobrirem-se-lhes todas as feridas. Cuidado, heim..."

Já pensou se a moda volta?

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Mudanças No Blog

Bem pessoal, como prometido algumas mudanças serão feitas no Blog.
Adicionarei novas páginas, disponíveis logo abaixo do logo do Blog, que terão conteúdo fixo. Para começar, confiram o Hino à São Carlos.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Aparecem os ciclistas

   Antes de mais nada OBRIGADO por termos passado dos 1000 acessos. Planejo mudanças no blog para mais espaço a outras informações. Aguardem , em breve teremos novidades.


   Bem, mas falando de ciclismo, quase todos os dias vemos os ciclistas pelas ruas da cidade. Sem dúvida é um ótimo exercício, e fonte de lazer também. Leio, no momento "Imprensa São-Carlense 1876-1955", de Octavio Carlos Damiano, e é dele o trecho a seguir, que mostra a origem dessa prática em São Carlos: O ciclismo surgiu em São Carlos em 1898, quando no dia 21 de setembro houve uma "bela corrida em desafio" entre dois ciclistas de São Paulo.
   Recomendada por médicos por proporcionar benefícios à saúde, o jornal noticiou, na edição de 12 de outubro do mesmo ano, que havia comprado bicicletas, nos últimos dias, os cidadãos Vicente Sabino, Dr. F. Paula Novaes, J. Apratti, Antônio Alberto da Cunha, João Priester, José Levy, Joaquim Cezar de Siqueira, Evaristo de Paiva Júnior, Joaquim de Campos e Antônio de Almeida Souza. Na mesma nota, comentou o preconceito e acanhamento de alguns em andar de bicicleta, salientando que na Europa essa prática tão salutar estava na moda.
   No entanto, na São Carlos dessa época não havia esse preconceito contra o ciclismo, que se constituía no "sport mais elegante e chic", concluindo o articulista, "A", com certeza o próprio diretor do jornal, Américo Penna, sem nenhuma modéstia: "S. Carlos nisto quiz mostrar que a futura Lyon ou a futura New-York brazileira sempre é adiantada e sempre americana".

Quem sairia no jornal hoje por comprar uma bicicleta?

sábado, 31 de março de 2012

O Homem do Cavalo Branco

   Continuando a divulgar um pouco de nossas histórias, reproduzo aqui um conto que era muito difundido oralmente em tempos passados. O texto é reprodução integral da versão que se encontra na página oficial da prefeitura de São Carlos:

O Homem do Cavalo Branco
Relato de João Mário Mendel: Conta-se que na época da colonização São Carlos e região contavam com a ação de um personagem lendário que podemos descrever como "Robin Wood" local da época. Dizem que era odiado por muitos, no entanto amado e respeitado por tantos outros, principalmente pelas mulheres. Aliás, possuia muitas aqui e ali. Como consequência disso, muitos filhos que talvez hoje, já velhos, ainda não saibam quem foi seu pai.
Era uma andante foragido da policia, por isso gostava de andar disfarçado. Numa situação, inclusive, para não ser reconhecido vestiu-se de mulher. A policia jamais conseguiu captura-lo, até mesmo porque ninguém atirava melhor do que ele, sem dizer que possuia uma personalidade dominadora, onde o tom de voz e olhar firme fazi todo mundo ficar com medo.
O Homem do Cavalo Branco era assim conhecido devido a cor do seu cavalo preferido. Andava sempre com seus capangas fazendo "negócios". O estilo dele não era de todo o mau, porque defendia os colonos alemães que por muitas vezes encontrava-se indefesos numa terra estranha, onde eram perseguidos em algumas situações. Gostava muito de crianças, tanto que em suas andanças sempre caregava consigo um saco contendo balas que eram distribuidas as crianças sempre que ele as encontrava.
A Fama do homem do Cavalo Branco se espalhou até Erechim, de onde vieram alguns homens valentes dispostos a enfrenta-lo. Sentados no restaurante do Hotel conversavam animadamente sobre a façanha que aqui realizariam, se gabando o tempo todo. Mal sabiam eles que o homem sentado na mesa ao lado e que ouvia a conversa tratava-se do sujeito que estava a caça.
As mulheres que trabalhavam na cozinha a esta altura já encontravam-se aterrorizadas, prevendo um tragédia. Ficaram mais incrédulas ainda quando o Homem do Cavalo Branco entrou na cozinha e tranquilamente pediu a elas que esquentassem um panelão de sopa. Da cozinha ouvia-se barulho alto de risos e conversas dos forasteiros, quando o Homem do cavalo Branco perguntou, carregando o panelão:
- Vocês querem saber quem é o Homem do Cavalo Branco?
E derramando a sopa sobre a cabeça do líder do grupo, falou calmamente:
- Eu sou o Homem do Cavalo Branco!
O Pobre homem apavorado e boquiaberto, todo ensopado, ainda conseguiu balbuciar:
- Mas.... você é um homem bom!!...
E assim como era de praxe, calçou todos no revolver, mandou que tirassem as roupas, embarcassem no "29" e contam que nunca mais apareceram por estas paragens.
Comenta-se que o Homem do Cavalo Branco veio da cidade de Getulio Vargas e foi para lá que voltou, de onde ouviu-se dizer que a policia jamais conseguiu pegá-lo, e apesar da vida chia de aventuras e perigos, viveu mais de 100 anos.

quarta-feira, 28 de março de 2012

As muitas faces do Gregório

   A partir dessa postagem, pretendo divulgar um pouco mais de um outro lado da nossa cidade, ou seja, além de sua história, também a sua cultura.
   Uma das primeiras postagens deste blog é sobre este obscuro personagem da história da cidade chamado Gregório. Também acabo de postar algo sobre ele no meu blog do São Carlos Agora. Mas nada ou quase nada falei ainda sobre o rio que recebeu este nome.
   Para corrigir esta falha, coloco algumas fotos antigas do rio, do acervo da Fundação Pró-Memória, e, na sequencia, uma poesia de autoria de Marco Antonio Leite Brandão, o popular Marco Bala, que tem muitos trabalhos de inestimável valor escritos sobre a cidade.


lavadeiras no córrego do Gregório (1950)


trabalhadores no córrego Gregório (1974)

Gregório de mil faces
De mil origens
De mil caminhos
Gregório posseiro?
Ancião negro?
Agregado de Botelho
Ou de Oliveira?
Gregório córrego-espelho
Da memória e da história
De São Carlos
Do olhar atento do Alonso
Quantas lágrimas de tristeza
E de alegria acolheste?
Quantos amores e desamores
Arderam em tuas curvas
Hoje retas como capa de livro?
Autor: Marco Antonio Leite Brandão

Essas imagens e poema e muitas outras coisas interessantes estão em um belo blog, cujo link é:

sábado, 17 de março de 2012

quarta-feira, 14 de março de 2012

Releituras


   É fato que todo processo de transformação de uma pessoa qualquer (famosa ou completamente obscura) em um ícone pressupõe que se elimine da sua biografia quaisquer sinais de contradições, falhas morais e etc. A transformação de um ser de carne e osso em ícone requer, portanto, a sua desumanização.
   Isso foi muito característico durante o predomínio do método de análise histórica denominado de “positivismo”, que entre outras coisas dedicava-se aos estudos dos grandes feitos, das grandes figuras. Isso foi muito marcante também na historiografia local, que, diga-se de passagem, dentro desses parâmetros estabelecidos pelo positivismo, foi muito bem feita.
   Mas o tempo e o progresso nas metodologias trouxeram uma mudança de enfoque necessária aos estudos históricos, e os alvos passaram a ser outros (estruturas, pessoas “comuns”, tempos da história, variando sempre de acordo a tradição historiográfica a que pertence o historiador). Ficaram, no entanto, os trabalhos feitos em outro momento histórico, com retratos e análises dos “grandes homens” que já não correspondem mais ao avanço da historiografia.
   É necessária, a meu ver, uma releitura desses mesmos personagens, libertando-os da toga imaginária da perfeição de que foram revestidos, aproximando-os das figuras reais que foram. Esse blog é uma tentativa de mostrar um pouco deste lados das pessoas aqui retratadas.
***
segue uma foto antiga do Teatro São Carlos

sábado, 10 de março de 2012

Uma carruagem de 150 anos

   O texto a seguir é parte integrante dos livros da "Coleção Nossa História", editada pela EDUFSCar e pela Imprensa Oficial, coleção que teve como estopim a comemoração de 150 anos da fundação oficial da cidade, em 2007.
"Uma carruagem de 150 anos detém-se à minha porta, inicia sua longa viagem e se perde nas brumas do passado. É como uma máquina do tempo e nós, passageiros de uma era atribulada e confusa, nos espantamos quando o cocheiro estaciona e anuncia solene: "Eis a Vila de São Carlos".
As linhas acima parecem talhadas para servir de epígrafe a esta Coleção Nossa História, que a Imprensa Ofiacial ora publica em conjunto com a Editora Universidade Federal de São Carlos. Mas foram escritas por Eduardo Kebbe, em crônica publicada pelo jornal são-carlense O Diário, em 1972...
... É toda uma miríade de histórias, desde os remotos tempos da vila de São Carlos dos Pinhais, que esta coleção descortina..."
Hubert Alquéres
Diretor Presidente
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo


   A coleção é realmente uma obra prima, de grande valor tanto pelo conteúdo reproduzido, fonte quase inesgotável para novas pesquisas, quanto pela própria conservação e propagação desse material.
   Para a escrita deste post tenho em mãos "O Jardim Público de S. Carlos do Pinhal" do professor Ary Pinto das Neves, figura boníssima, sobre quem ainda quero ter o prazer de estudar mais. O livro me foi presenteado por um amigo que teve a honra da convivência pessoal com o professor Ary.
**************
A foto a seguir mostra a Estação Ferroviária em uma época um pouco diferente da que foi fotografada no logotipo deste blog!
Vista da Estação e o bonde em 1918

sábado, 3 de março de 2012

Benvindo, o homem das pombas

   Acabo de ler Crônicas e Histórias de São Carlos e outras localidade, de Nicola Gonçalves, e me deparei com um texto que me fez lembrar de quando a praça Coronel Sales fazia juz ao apelido carinhoso de Praça das Pombas. Reproduzo parte do texto que se encontra na pág. 62 do livro citado.

O Popular Benvindo,
O Homem das Pombas
   Patrimônio de todos nós que amamos os seres viventes, Benvindo simboliza o amor devotado às pombas da Praça Coronel Sales e por elas também amado, numa amizade recíproca dividida às crianças que ali comparecem para admirá-las.
   As aves compreende-no, elas adoram o assobio mágico que as fazem aproximarem-se para comer o milho distribuído entre todas. Algumas até comem nas mãos de Benvindo, denotando uma convivência amigável entre o ser humano e essas aves, mesmo porque ele as trata com amor e carinho...

   Outros tempos...

MEUS LIVROS

   Acaba de sair uma antologia (Cronicidades) da qual fazem parte 50 autores (eu entre eles) que participaram de um concurso realizado pela editora INCULT. Deste concurso selecionou-se esses 50 autores e publicou-se duas crônicas cada. Ficou muito legal.
Cronicidades

   Também publiquei a tempos atrás o livro Banditismo como contestação social: o caso Leonardo Pareja. É, com algumas variações, a minha monografia do curso de História, onde pesquisei durante um bom tempo os feitos deste Leonardo Pareja.
Banditismo...
Ambos estão disponíveis para compra em: http://www.clubedeautores.com.br/



quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Em defesa da História

  
   Com tantas coisas acontecendo neste momento, tantas informações disponíveis ao alcance de um "clic", de que vale alguém se interessar por ( e o que é ainda mais grave, escrever) História? Esta pergunta encontra eco no pouco espaço disponível aos historiadores nos grandes meios de comunicação, que, ligados na agilidade dos acontecimentos diários, recusam-se a cederem espaço para alguém que só faz lembrar coisas velhas.
   Acontece que ao historiador não fica reservado apenas o trabalho de guardador de informações e fatos velhos, caso contrário poderia ser trocado facilmente por qualquer software de armazenamento de informações Mas cabe aos historiadores também um papel nobre, o de "desconstrução" da História oficial.
   Velhas versões de fatos passados, contados e recontados sem nenhuma preocupação com a investigação histórica podem esconder grandes mentiras, versões forjadas e construídas por quem pôde se impor na construção da memória oficial. Publiquei um exemplo de tal embate entre duas possibilidades históricas no meu blog do site São Carlos Agora ( A Polêmica Década de 1950 em São Carlos). Aquele foi apenas um dos inúmeros casos ocorridos por aqui.
   É por isso que cabe ao historiador um compromisso ainda mais nobre; o compromisso com a verdade, ainda que destinada a ser superada.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

blog do ronco e os bondes em São Carlos

Divulgo aqui um outro blog que, entre outras coisas, mostra imagens como as que seguem abaixo:

Bonde na Rua D. Alexandrina
Bonde em frente à Santa Casa


Inauguração da linha em Frente à Estrada de Ferro em 17/12/1914


Fantástico, não é?
O mais interessante é que estas fotos saíram em uma revista inglesa que contou a história dos bondes em São Carlos.
O link para o blog é: www.blogdoronco.blogspot.com

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A Ilusão das terras fáceis

imigrantes portugueses

Vida difícil enfrentavam os imigrantes que chegavam a São Carlos, iludidos com promessas de terras abundantes e muito dinheiro.

Até pelo menos a grande crise cafeeira de 1930, pode-se afirmar ser enganosa a noção bastante difundida, de que os colonos aos poucos se transformaram em pequenos proprietários e sitiantes.

Oswaldo Truzzi, no livro Café e Indústria, São Carlos 1850-1950, aponta numerosos indícios a este respeito, a começar pelo fato de que com a renda mensal de que dispunham, a possibilidade de poupança de um montante suficiente para aquisições de alguns alqueires de terra era improvável.

Era muito mais provável que os caminhos que levassem o colono à condição de proprietário fossem muito mais tortuosos, que envolvessem um período de tempo equivalente a uma ou duas gerações, a migração para a cidade e ainda outras condições que tornavam esse degrau de ascensão social inacessível para a maior parte dos colonos.

Truzzi ainda aponta dados do Almanach de São Carlos, onde entre os anos de 1894 e 1920, é possível observar o pequeno número de imigrantes entre os proprietários, e, ainda assim, quando tornaram-se proprietários geralmente eram de porções menores de terras.

O recenseamento de 1920 confirma tal assertiva, a área média das propriedades pertencentes a estrangeiros é de 45,4 alqueires, enquanto no caso dos proprietários brasileiros a mesma média se eleva a 238,1 alqueires, no município de São Carlos.


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Estante Virtual II

Aspectos do Folclore São Carlense
Uma das obras de referência para quem quer conhecer um pouco mais sobre as características do folclore da cidade é este livro escrito na década de 1980 pela especialista em folclore Lígia Temple Garcia Gatti.
Resultado de muitos anos de pesquisa de campo, o trabalho é uma bela captura dos detalhes que constituíam o cotidiano das pessoas que por aqui habitavam. Com belas ilustrações feitas por José Gatti, é um trabalho de fácil e prazerosa leitura.
Restam poucos exemplares em circulação, mas alguns estão à disposição na Biblioteca Pública Municipal.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Jesuino de Arruda


imagem da estátua de Jesuíno de Arruda, que se encontra em frente a escola de mesmo nome


  Nascido em Ibiúna (então Vila de Una) em 11 de fevereiro de 1811, Jesuino de Arruda casou-se com Maria Gertrudes de Arruda, de quem incorporou o sobrenome. Filho de um modesto casal de portugueses, que exerciam a profissão de comerciantes, logo partiu para a atividade de tropeiro. Com o tempo adquiriu também propriedades agrícolas em Piracicaba, montou uma “loja de fazendas” em Araraquara e comprou partes da Sesmaria do Pinhal de posse da família Arruda Botelho, onde depois seria construída a capela.
  Coube a ele a doação das terras para a construção da capela e o requerimento da permissão para a mesma.


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Uma carta reveladora...



Muito se comentou sobre a bondade do casal Antonio Carlos de Arruda Botelho, o Conde do Pinhal, e sua esposa, Anna Carolina, a Naninha, para com os escravos que possuíam. Em alguns livros e artigos escritos pelos seus descendentes, é sempre ressaltado o fato de que Naninha cuidava pessoalmente da saúde deles.
O trecho a seguir é de uma carta do Conde do Pinhal, escrita em 21 de fevereiro de 1865, e endereçada a sua esposa, e mostra alguns dos motivos das preocupações dos senhores para com os escravos:
... é preciso não se descuidar no tratamento do Felício, assim como dos demais doentes, pois quanto menos atenção houver no tratamento deles, maior será a demora deles em se casar, e por isso mais prejuízos teremos em seus serviços.
Como vemos, nem sempre os motivos de tantas preocupações eram simplesmente a bondade do casal.
Essa e muitas outras cartas do casal estão no livro Naninha, aceitai minhas saudades, da Edufscar, e mostram muitos detalhes interessantes desta importante família.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Estante Virtual

   Com a intenção de divulgar trabalhos escritos sobre a história de São Carlos, estréia hoje a seção Estante Virtual, aqui no São Carlos Ontem. Quem souber ou tiver algum trabalho, seja artigos, livros, imagens, e queira divulgar, entre em contato pelo e-mail isaelmangerona@gmail.com.
  Comentários e sugestões serão sempre bem vindos, tanto no espaço destinado a este fim, no rodapé das postagens, quanto no e-mail acima.

ÁLVARO GUIÃO

  Começo com um trabalho do Prof. Dr. Ailton Pereira Morila, atualmente na Universidade Federal do Espírito Santo, com um excelente artigo e belas imagens sobre a escola Álvaro Guião, antiga Escola Normal, em São Carlos.  O link para o texto é :http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/revis/revis19/art03_19.pdf
  As imagens abaixo são uma mostra do que se pode ver:
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sala de desenho


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sala de ciências

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Uma outra História


  Uma outra versão para a cena narrada na postagem anterior é a de Bento de Abreu Sampaio Vidal, que é a seguinte:

        "A velha imagem de São Carlos, ouvi do Conde do Pinhal (Antônio Carlos) foi transportado da capela da fazenda "Pinhal" sôbre um tabuleiro na cabeça de um preto, que veio a pé, em um dia de muita chuva. existe ainda em nossa catedral".

 Segundo as palavras de Theodorico de Camargo aí temos um exemplo frisante, a mostrar a grande precariedade da chamada "tradição de família", que pode ser alterada facilmente, conforme os caprichos e conveniências dos que dela se valem.

sábado, 28 de janeiro de 2012

As Histórias que nos contam...

Escudo de armas do Conde do Pinhal (fonte: Wikipédia)
  
  Tradicionalmente a fundação da capela está diretamente relacionada ao ato da fundação oficial de uma cidade. Assim, aqueles que queriam aparecer para a História como fundadores, empenhavam-se de corpo e alma na tarefa de "construir um passado" relacionado com a construção da capela. É assim que aconteceu também em São Carlos. Hoje veremos uma das versões que existem sobre o momento em que a família Arruda Botelho doou a imagem de S. Carlos (o santo de devoção da família) para a capela. Essa versão foi escrita por Bruno Pereira Bueno, neto do Conde do Pinhal, para a Revista do Arquivo Municipal, Vol XLIII, ano de 1938.

  "E é por isso que numa clara manhã do ano de 1857, aquela estranha comitiva se dirigia solenemente para o local situado entre os córregos do Gregório e Tijuco Preto.
  Acima das cabeças respeitosamente descobertas, a imagem de S. Carlos Borromeu, trazida do oratório da fazenda, oscilava a cada passo desencontrado de seus portadores. Sob as varas do pesado andor, sustentando-o e conduzindo-o, estavam os ombros robustos dos irmãos Arruda Botelho".

  Na próxima postagem, veremos uma outra versão totalmente diferente sobre esse mesmo momento histórico...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

São Carlos do Pinhal ou Princesa do Oeste?

imagem da atual igreja matriz da cidade
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   O nome da cidade de São Carlos deve-se principalmente à devoção que a família Arruda Botelho tinha por esse santo católico. Foram eles que doaram a imagem do santo para a capela recém construída, que segundo a tradição (contestada por historiadores contemporâneos) marca a fundação da cidade.
   Inicialmente a cidade chamava-se São Carlos do Pinhal, em referência à Sesmaria do Pinhal, de propriedade da família Arruda Botelho. A cidade passou a chamar-se apenas São Carlos em 1908.
   Conhecida hoje como a "Capital da Tecnologia", São Carlos foi, em seus primórdios a "Princesa do Oeste", graças a riqueza e prosperidade que vinha das lavouras de café.
PS: Na próxima postagem, veremos diferentes versões sobre o modo como a imagem doada pela família Arruda Botelho foi levada para a capela.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Roubo Milionário


Um dos maiores roubos sofridos por um cidadão morador de São Carlos aconteceu em 1901. Antonio Carlos de Arruda Botelho (o Conde do Pinhal) fazia o que seria sua última viagem de negócios: ia para o Rio de Janeiro com um empregado de confiança chamado Bulti Natali: levava 297:000$000 réis em dinheiro e, na baldeação do trem em Taubaté, deixou-os com o empregado para tomar um café. Ao voltar, não mais encontrou o empregado nem o dinheiro. Natali foi preso, mas sem dinheiro e alegando inocência. O Conde acreditou que ele não havia roubado, mas estava convencido de que escondia o nome do ladrão. O Conde voltou para a fazenda Pinhal e faleceu dormindo, dias depois. Misteriosamene, um mês após sua morte, o dinheiro foi encontrado na Estação do Norte, em São Paulo, numa trouxa de roupa suja, desfalcado somente em dez contos de réis. Foram coisas da política, diz a tradição familiar.
(reprodução do texto de Margarida Cintra Gordinho, no livro "A Casa do Pinhal").

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Chegam os alemães

imigrantes camponeses alemães
 (só faltou a Luiza, que estava no Canadá)
    Com o movimento abolicionista ganhando uma força cada vez maior no Brasil e a importação de escravos proibida, os fazendeiros precisavam achar alguma outra fonte de mão-de-obra para as grandes lavouras cafeeiras. É assim que se inicia a imigração européia para o trabalho nas lavouras brasileiras.
    Convencidos por uma falsa propaganda que prometia terras fáceis a todos, chegavam em grandes levas, e quase sempre a realidade não correspondia com o que lhes fora prometido.
    Em São Carlos, a primeira leva de imigrantes chegou em 1876, quando por iniciativa do fazendeiro e futuro Conde do Pinhal, Antonio Carlos de Arruda Botelho, cem famílias alemãs foram trazidas para trabalhar em suas fazendas. Era o início de um grande movimento que tomaria proporções maiores a partir de 1880.

sábado, 14 de janeiro de 2012

TRAGÉDIA EM SÃO CARLOS


                São Carlos começava a ganhar ares de cidade quando uma terrível catástrofe se abateu sobre ela. Foi a epidemia de varíola, que no ano de 1875 afastou praticamente toda a população que por aqui residia. Uma grande parte morreu infectada pela doença, e os que não se contaminaram fugiram para outros lugares.
            Ficavam na cidade apenas os infectados, para receberem os primitivos tratamentos, que quase nunca garantiam a vida dos doentes. Muitos ficaram na residência de Jesuino de Arruda, que a doou para este fim, feito que lhe valeu um voto de gratidão da Camara, que segue transcrito, na grafia original:
“Pedio a palavra o vereador Magalhães e disse que era de parecer que a Câmara deve manifestar ao cidadão Jesuino José Soares o quanto lhe hé grata pelo empréstimo que lhe fez da caza que servio de hospital e que por esse ato philantrópico e beneficiente a Câmara lhe dirija hu voto de reconhecimento e gratidão e foi aprovado”.
            Com o tempo a epidemia diminuiu, mas volta, embora em menor intensidade, em 1879. Demoraria cerca de cinco anos para que a cidade se recuperasse totalmente da enorme tragédia.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

DESAPARECIDO!


A História de São Carlos é cheia de "esquecimentos" e "sumiços". Um exemplo típico é um cidadão, provavelmente um dos primeiros habitante brancos da região (habitada anteriormente por índios e, na região da antiga Sesmaria do Quilombo por escravos fugidos).
Deste cidadão a História local conservou apenas um nome, Gregório, que posteriormente passou a ser o nome do córrego que cortava o que antes eram suas terras. Um dos poucos historiadores que se referiram ao Gregório, Cincinato Braga, o fez com os seguintes termos: outrora, quando em 1831 Carlos J. Botelho medira suas Sesmarias, encontrara, habitando à margem do riacho que corta agora a rua S. Carlos, um intruso de nome Gregório de tal.
Qual o motivo de tamanho descaso?
Gregório não tinha a posse legal das terras (muito difícil para os pobres da época), não era de família nobre nem rica. Sendo assim, não foi considerado à altura de pertencer a história da cidade pelos historiadores elitistas da época, que então resolveram simplesmente esquecê-lo.