quinta-feira, 12 de julho de 2012

No jornal A Folha

O texto a seguir foi publicado hoje no jornal A Folha, aqui de São Carlos:

A Arte de sujar os sapatos

Isael Lubk Mangerona*

         As informações estão ao alcance de todos. O advento da internet permitiu que o mundo todo estivesse ao nosso alcance sem muito esforço. Para sabermos das notícias mais quentes do momento, basta acessar alguns sites de notícias, atualizados dia e noite. Em alguns minutos a notícia já é velha.

         Nesse contexto, natural que um velho “caçador de novidades”, o jornalista, passasse a usar em seu favor esta tecnologia. E isso aconteceu. O problema que aconteceu tanto, que, como observou Humberto Werneck, no posfácio de Fama & Anonimato, livro de Gay Talese, o jornalista passou a resolver tudo, ou quase tudo, de dentro das redações, e esta seria, inclusive, uma explicação para “o conteúdo monocórdio que nivelou, por baixo, boa parte dos jornais e revistas”.

         Esse conteúdo monocórdio acaba sendo uma consequência óbvia da busca das notícias nas mesmas fontes, já que, por pequena ou nenhuma quantia em dinheiro, todas as notícias “quentes” do mundo estão diante da tela do computador.

         É aí que faz toda a diferença o veículo de informação que mantém nos seus quadros um ser quase em extinção; o jornalista que suja os sapatos. É o velho profissional que, ao sair às ruas, busca mais do que notícias, busca pessoas. Seus assuntos quase sempre não exigem publicação imediata, pois falam do povo, e o povo está sempre aí.

         Aliás, não só no jornalismo, mas em quase todas as profissões existem aqueles que tomam como causa dar nomes e contar as histórias dessa multidão informe e anônima chamada “povo”. Como escreveu na dedicatória do livro Café e Indústria, São Carlos 1850-1950 o professor Oswaldo Truzzi “dedico este livro àqueles – escravos, imigrantes e nacionais – que, de protagonistas, foram transformados em meros figurantes de sua própria história".

         Assim é que os “mestres na arte de sujar os sapatos” abrilhantam a imprensa com “tesouros” que quase sempre estão bem próximos, histórias que passam pelas ruas todos os dias, a espera de um par de sapatos sujos que vá ao encontro delas e as façam falar.

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