Comendo
o que se escreve
Isael Lubk Mangerona*
Antes de qualquer coisa é preciso
deixar claro que o texto a seguir não é mais uma dieta milagrosa nem coisa
parecida. Aliás, se pensarmos bem, trata-se de uma dieta sim, mas antes de ser
milagrosa, ela é um tanto..., intragável. É que, no auge de discussões
acaloradas sobre os méritos literários de algumas obras, a solução acabou sendo
uma refeição um tanto indigesta.
Dentre os vários segmentos do
jornalismo, figura o “jornalista cultural”, aquele que se dedica a cobrir todas
as informações na área da cultura. Um de seus expoentes foi o jornalista Daniel
Piza, morto recentemente. E é ele mesmo quem escreveu certa vez que o
jornalista cultural “é rotulado nas próprias redações como um privilegiado que
trabalha menos (afinal, ‘dar opinião é fácil’), não tem obrigação de cavar
‘furos’ e ainda vive ganhando os melhores ‘jabás’ – livros, CDs, DVDs etc.”
Quase sempre, quando se pensa em alguém que pratica
o jornalismo cultural, imagina-se uma pessoa sentada, lendo muito e tendo pouco
contato com o mundo real, a não ser quando vai acompanhar uma peça de teatro,
ou um filme novo. Ao contrário do jornalista que lida com os fatos do
cotidiano, que está sempre envolvido em ações perigosas, acidentes, denúncias,
etc.
Mas a literatura e as artes em geral, assim como a
investigação histórica, também possuem suas polêmicas. No Brasil ficou célebre
o embate entre José de Alencar, que em 1856 criticava a concessão de verbas
imperiais para a edição do poema A Confederação dos Tamoios, de
Gonçalves de Magalhães, e o próprio Imperador D. Pedro II, que a princípio
escrevia nos jornais em defesa da concessão das verbas usando um pseudônimo,
mas que depois assinaria os artigos com o próprio nome.
Outra polêmica famosa foi em Florianópolis quando,
após criticar um livro de Eduardo Nunes Pires, o jornalista e crítico literário
Virgílio Várzea foi obrigado pelo autor a engolir as páginas de jornal onde haviam
sido publicadas as críticas que tanto ódio despertou. Bem, ao que parece nem
sempre a vida do “jornalista cultural” é tão simples assim.